
O Estrela da Casa, reality show musical da Globo, chegou à sua segunda temporada carregando expectativas. A emissora apostou em ajustes importantes no formato, dando mais espaço para a música e reduzindo o peso das situações de convivência entre os participantes.
No entanto, mesmo com mudanças acertadas, o programa não conseguiu alavancar sua audiência nem gerar grande repercussão.
Na comparação com a primeira temporada, é inegável que o programa ficou mais coerente com sua proposta. A Globo entendeu que o público busca, nesse tipo de atração, principalmente apresentações musicais e disputas de talento, e não conflitos artificiais dentro de uma casa. O foco na música deixou o formato mais leve e mais próximo de sua essência, o que pode ser considerado uma evolução clara.
Apesar disso, os números de audiência não acompanharam a melhora de conteúdo. O programa continuou patinando na faixa horária em que foi exibido, com índices abaixo do esperado para a emissora.
A repercussão nas redes sociais também foi tímida, longe de criar os fenômenos de engajamento que a Globo costuma conquistar com realities como o BBB.
Indiferença do público
Esse contraste escancara uma questão recorrente no cenário brasileiro: o público não se mostra tão empolgado com competições musicais quanto em outros formatos de reality.
Ao contrário de países como Estados Unidos e Reino Unido, onde programas como American Idol ou The Voice se tornaram marcos culturais, no Brasil esse tipo de formato raramente extrapola sua bolha.
Nem mesmo a aposta em talentos carismáticos foi suficiente para transformar o Estrela da Casa em assunto nacional. Embora os candidatos tenham mostrado qualidade vocal e entregado boas performances, o interesse se limitou a nichos de espectadores mais ligados à música, sem transbordar para o público geral.
É curioso perceber que a própria Globo, ao longo da história, já tentou consolidar atrações musicais no formato competitivo e nunca obteve resultados duradouros. Do Fama no início dos anos 2000 ao The Voice Brasil nos últimos anos, a dificuldade em criar comoção nacional com esse tipo de programa se repete.
Estratégia equivocada
Isso não significa que o Estrela da Casa seja irrelevante. Pelo contrário, a segunda temporada mostrou que há espaço para produções musicais de qualidade na TV aberta, mas talvez em escalas menores e com expectativas mais modestas.
A vontade de transformá-lo em um carro-chefe de audiência, no entanto, parece cada vez mais distante da realidade.
A pouca repercussão também levanta dúvidas sobre a estratégia da Globo em insistir nesse tipo de formato. Em um mercado televisivo em constante transformação, apostar em programas que não criam engajamento massivo pode ser um risco grande, especialmente quando há concorrência direta com o streaming e outras formas de entretenimento digital.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer o mérito da emissora em não desistir de testar e ajustar. O Estrela da Casa foi mais musical, mais justo com seu conceito e menos artificial em suas narrativas. Essa evolução pode até não ter se traduzido em audiência, mas certamente contribui para o aprendizado da Globo em explorar linguagens alternativas.
Lição
Outro ponto positivo foi a produção caprichada. Cenários, iluminação e direção de arte deram ao programa um ar sofisticado, reforçando a qualidade técnica que a Globo tradicionalmente entrega. Esse cuidado visual, no entanto, não foi suficiente para compensar a falta de impacto junto ao público.
Em resumo, a segunda temporada do Estrela da Casa pode ser vista como um acerto estético e narrativo, mas um fracasso em termos de alcance. A Globo conseguiu melhorar seu produto, mas não conseguiu despertar o entusiasmo coletivo. O problema não está na execução, mas talvez na própria natureza do formato, que não dialoga com a mesma intensidade que outros realities no Brasil.
Assim, o Estrela da Casa se consolida como um caso emblemático: um programa bem produzido, que encontra sua identidade, mas que enfrenta a barreira cultural de um público pouco receptivo a competições musicais. A lição que fica é que qualidade técnica e boas intenções não bastam quando o formato não conversa com o desejo de audiência.